Eu acho uma puta sacanagem o que está sendo feito com eles, não porque eu acredite que são inocentes das acusações. Eu não acredito! Acho que são culpados de tudo e mais um pouco.
Também não estou querendo defender “bandidos”, até porque eu sei - todos sabemos, que infelizmente, no nosso país, nem sempre podemos ser maniqueístas na definição de mocinhos e bandidos, ainda mais se a lei for o principal critério de avaliação...
Pra mim, a sacanagem que está sendo feita é esse teatrinho descarado do "óh! vcs roubaram! óh! vcs desviaram verba! óh! que absurdo!", como se não fosse essa a regra a despeito das leis! Teatrinho para punir quem cedeu à putaria (procurei palavra mais refinada, mas não encontrei) para poder entrar no jogo (ou alguém acredita que seguindo a linha tradicional do PT, com discursos inflamados sobre reforma agrária, e sem verba/mensalão pra pagar campanha política do Duda Mendonça o Lula teria sido eleito?) - e depois, é claro, acabou se perdendo na esbórnia, porque só monge budista (ou algumas exceções, sei lá, algum político menor, tempos atrás, prefeito de alguma cidade da grande SP, de repente...) dá conta de se resignar diante de tanta tentação (e diante de outras coisas menos concernentes ao desejo e mais associadas à preservação da própria vida mesmo...). Teatrinho para tirar de cena aqueles que já cumpriram a sua função de “oposição” o que, em uma democracia, significa se tornar ícone do poder-instituído para que os donos do poder-de- fato retornem, renovados, aos seus papéis de protagonistas, e no caso, com seus figurinos verde-amarelos impregnados com um excitante perfume revolucionário!
Mas, apesar disso tudo, eu não acho que a nossa função política, como cidadãos, seja ir às ruas defender o PT. Acho isso bem estranho, inclusive! Tive uma grande decepção quando, ingenuamente, acreditei que as manifestações do dia 18 de março eram em prol da democracia, em defesa de uma investigação idônea nas operações realizadas pela Polícia Federal. Uma investigação que não se mostrasse mais corrupta do que os próprios investigados! Já que a bandeira mestra é o fim da corrupção...
Então, fiquei meio atônita vendo o Lula discursar na avenida Paulista para a CUT, para o MST, para a UNE... e também para os cidadãos em geral (muitos meus amigos, inclusive), destituídos de entidades a representarem que, movidos por uma estranha paixão, foram às ruas com suas camisetas vermelhas! Achei aquilo meio anacrônico e totalmente despropositado. Mais sentido fazia a atitude dos manifestantes do dia 13, expulsando os políticos oportunistas, quase sempre diretamente associados aos que estão contra o PT, por serem, partidariamente, da oposição.
Para mim, os que enxergam essa tragicomédia armada, com direito a circo midiático e novos heróis da nação (ai que preguiça daquelas bandeiras com a cara do Moro! Não sei como os anti-anti-governistas não colocaram uma roupinha de Robin nele, para fazer par com o Joaquim Barbosa vestido de Batman... que tristeza a maneira como se manifesta a nossa consciência política, que humor pobre e destituído de poder estético... assunto para outro texto, pois esse não daria conta!), os que se indignam com as acusações ao PT devem se resignar ao inevitável, devem dar o bode ao sacrifício e honrar o seu sangue nas atitudes do porvir!
Quem defende o PT nem sabe mais o que defende! Os opositores estão certos: se somos contra a corrupção, temos que ser contra os corruptos! Dilma e Lula não são nossa mãe e pai para ficarmos agarrados afetivamente às suas figuras humanas. Eles são seres políticos. Sabiam que o olhar sobre eles seria muito mais rigoroso quando chegassem ao poder, por representarem a eterna oposição aos poderosos sem escrúpulos! E escolheram ceder. Talvez de forma heroica, como única maneira de poderem, de dentro, fazer ao menos o mínimo pelos pobres brasileiros, oprimidos por anos a fio (e eu acredito nisso, a despeito do sorrisinho sarcástico dos que não têm fé!, então não pensem que vou engrossar o discurso dos xingadores de plantão, ignorantes dos pés à cabeça!). Talvez por descaso e oportunismo, legitimando Paulo Freire, e ascendendo de oprimidos a opressores, sem cerimônias. Mas para o contexto, pouco importa.
É hora de assistir ao enforcamento. Vamos observar, resignados, às cabeças decapitadas. E que o sacrifício não seja em vão. A verdadeira luta não se faz nas ruas, diante dos holofotes e das câmeras da televisão. Impeachment por impeachment já tivemos um, queimando a largada da nossa curta história democrática, e o que estamos vivendo hoje só demonstra que de nada adiantou irmos às ruas com as caras pintadas nos anos 90. Vamos mudar a estratégia.
É hora de criar formas mais eficientes de atuação. A primeira delas, para mim, é garantir que as pessoas tenham acesso à informação. Começando por você mesmo. A gente se acha muito politizado, mas quando começa a tentar entender de fato os processos políticos se apavora com a própria ignorância. Ao mesmo tempo, desiste antes de fazer algo que realmente possa fazer diferença, pois a burocratização extrema dos sistemas é totalmente desestimulante. Então, vamos guardar energia (e tempo!) para atuar de maneira eficiente na nossa militância. E utilizar o maior legado do PT, que é o aumento da auto-estima da nossa população, a nosso favor.
O acesso a coisas muito básicas, mesmo que de forma ainda precária, como saúde, saneamento básico, energia elétrica e educação despertou o sentimento de pertencimento em pessoas que não se viam como cidadãs e hoje já acreditam ter voz para mudar o país. E mais do que isso: acreditam que suas ações podem mudar o seu entorno (sim, o nosso entorno é maior do que o país, a concretude de um supera a abstração do outro...), como pudemos ver na ocupação das escolas de todo o Brasil, que agora repercute em ações concretas dentro das instituições que, podemos crer, vão começar a mudar uma das maiores pragas desse país: o nosso sistema educacional (que tem um projeto pedagógico alienante, já que destrói a curiosidade natural do indivíduo e acaba com o prazer pela busca do conhecimento, ao afastar o estudante das questões interessantes do seu cotidiano convencendo-o de que aprender um monte de abstrações inúteis é muito mais importante... mas isso também é assunto para outro texto...).
A mudança se dá nas nossas ações cotidianas. E manifestar contra o impeachment (ou a favor dele, no caso, tanto faz), apenas nos faz perder tempo e energia da luta legítima! Eu, se fosse a Dilma, inclusive, já teria dito: “falou, galera, eu já fiz o que eu tinha que fazer, agora é com vocês! Tô indo, para que vocês saiam das ruas e vão à luta!...”